Há um contraste marcante entre o ousado João Batista descrito em João 1, confiante sobre a identidade de Jesus “…Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1: 29) e o João Batista com sua profunda dúvida em Mateus 11. “És tu aquele que haveria de vir, ou devemos procurar algum outro?” (Mateus 11:3).
JOÃO BATISTA E A SUA DÚVIDA
Podemos entender melhor João Batista quando consideramos suas circunstâncias imediatas. Por ter confrontado a Herodes e o seu pecado, João se viu envolvido em um drama que culminaria com sua cabeça em uma bandeja (Mateus 14: 1–12) um fim difícil para o maior homem “nascido de mulher”. É nesse ponto que João é forçado a enviar um mensageiro para investigar a identidade de Jesus. Embora tenha demonstrado uma convicção inabalável no batismo de Jesus, agora ele está tendo dificuldades para olhar além dos muros da cela da prisão.
Tempos difíceis como esse tendem a estimular a dúvida, não apenas sobre a existência de Deus, mas sobre seu próprio caráter e sua bondade. Esse tipo de dúvida excede em muito os problemas abstratos; essa dúvida é profundamente preocupante porque é muito pessoal. Que encorajador é o fato de as Escrituras serem tão claras na exploração dessas questões dos dramas humanos, mesmo um dos heróis indiscutíveis da fé teve dúvidas.
RESPOSTA DE JESUS
A resposta de Jesus a João é uma benção para aqueles de nós que se encontram em terreno igualmente instável: “Jesus respondeu: voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: Os cegos vêem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres. E feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa.” (Mt 11: 4-6).
Aqui, nosso Senhor mantém seu hábito de responder perguntas de modo indireto, mas a sua resposta não deixa de ser maravilhosa. A reposta que Jesus dá a João é uma clara alusão à profecia messiânica encontrada em Isaías 35: 5–6. Palavras muito familiares a esse ardente profeta. “E feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa” é uma advertência gentil para João se apegar à fé, especialmente diante das adversidades severas. Em outras palavras, João precisa olhar além das grades da cela da prisão para ver o trabalho do Senhor avançando. Embora suas circunstâncias sejam inegavelmente terríveis, a grande profecia do Messias vindouro, aquele que ele apaixonadamente anunciou no deserto está sendo cumprida enquanto espera na prisão.
OLHE PARA A CRUZ
Jesus nos oferece a mesma mensagem quando nos sentimos cansados, abandonados e desiludidos. Em meio a provações e tribulações, a grande tentação é reduzir a obra do Senhor às circunstâncias de nossas próprias vidas. Dado que vivemos em um mundo caído, enfrentaremos grandes desafios e sofrimentos. As Escrituras nunca negou essa realidade. Contudo, se prestarmos atenção às palavras de Cristo e olharmos além de nossas vidas e reconhecermos que servimos a um Rei cósmico cuja Igreja continua a florescer em todo o mundo, podemos suportar qualquer sofrimento sem sucumbir ao desespero. Nossa dor é grave e nossa mágoa é real, mas também NÃO É A HISTÓRIA TODA.
A vida de João terminou com a sua execução. A maioria de nós não compartilhará do seu destino dramático, mas todos nós devemos enfrentar a sombra de nossa própria mortalidade. Nesse sentido, é da maior importância que olhemos para Jesus, cuja vida também terminou com a execução. Ao contrário de João, porém, Jesus ressuscitou no terceiro dia, subiu ao trono no céu e voltará para tornar todas as coisas novas. Por esse motivo, quando olhamos para a cruz, podemos fazer mais do que simplesmente suportar as provações que enfrentamos. Podemos enfrentá-las com grande expectativa, mesmo nas celas das prisões da vida.
Pr. Cleber Batista
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